4/27/2011


- Você poderia esboçar sua trama histórica... Impulsos pessoais?


(lembrando)

- Na vigésima década de chuva – vestido da ousadia de três seres que dançam – abri a janela do eu/quarto. São tantas estórias de histórias na vida desta humanidade! O inspirar dum perfume de memórias escondidas construtoras da imagem de um homem tentando salvar sua própria vida.

(pausa. olhar distante.)

- Muito mais do que isso... O acerto e a rebeldia dos sentidos! A instigação do eu/corpo legitimada pela redescoberta da afirmação do Uno, do estar contido no universo... humana! A carne exposta da juventude quase pueril em trânsitos afetivos e imagéticos... (rindo) Um humano comum chegando a compreensão do ser criativo. Eram como passagens de percepções de si para outras – o eu/corpo vibrava na coragem de esquecer o medo com muita vontade do ridículo e fortalecido pela fertilidade. (inflamado) Transitar é desenhar novos contornos de vida, renascer em si mesmo, aumentar as possibilidades, expandir; é a concretização das sensações dos movimentos internos afetivos transbordando na ação do estar no mundo. 

- Como você...

(levantou, tomou um pouco de água e foi embora)




4/14/2011


- O que estou fazendo? É isso que você quer saber?

- Sim, sim!

- É uma poética cênica. Estou pensando a criação a partir dos cultos de fertilidade, mitos da criação, procriação de singularidades, celebração da alteridade. É uma trilogia e nesse momento estou trazendo a última parte: “Incômodos: para quem ainda vir a me amar”.

- Conta pra mim um pouco dessa poética cênica!

- Claro! Posso te dizer que é um acontecimento cênico onde o amor atravessa de ponta a ponta. É... Respirar livremente, expandir-se! A aurora da insurreição e o início do tirar o véu e o genuíno rebelar-se. E... E... A expiração de uma conversa comigo; bem como a materialização estética/ética da discussão que venho travando com o meu amor. Junto a isso, descubro e revelo as instâncias institucionais que cercearam a minha livre expressão de amar. 

(acende um cigarro, toma um gole de vodka - pausa)

- Quais?

- (brutal) A moral judaico/cristã/capitalista através do Catolicismo e dos movimentos evangélicos! Estes foram proeminentemente os construtores dos valores perversos que até certo tempo de minha vida tive que prestar obediência. (longo trago) Foram eles que gestaram as ruas, as escolas, as casas, as brincadeiras, o vestir, o comer... (outro trago - agora mais calmo) Além disso, hoje percebo que a origem da força tirânica que sempre tentou dominar os meus impulsos amorosos está nos antigos hebreus. Coitados! Precisavam aumentar a sua população para se salvarem da escravidão, logo toda a atividade sexual que não provocasse o aumento de seu contingente populacional estava completamente desautorizado. Como também, o surgimento da Igreja Católica e o seu discurso das leis da natureza e a sexualidade apenas com fins reprodutivos. A culpa! O pecado! A negação do prazer! E ainda o capitalismo e toda a sua necessidade de construção de mão-de-obra, tanto para manter o aumento do capital das classes dominantes como para a reserva de mãos para o trabalho. (Acendendo outro cigarro) Agora você imagine isso tudo já misturado e imposto na vida!

- Como você pretende...

- Só mais uma coisa!

- Vai.

- Desejo compartilhar a minha recusa a esses valores. Expor a eu/cura ao afirmar uma crença/pratica na liberdade afetiva e na celebração da alteridade. Assim vou brincar com essas questões - compor esta poética do regresso do mergulho em mim. É quando eu volto das eus/profundezas em direção as minhas comunidades... (apaga o cigarro) Intento compartilhar saberes adquiridos... (olhar forte) As vivências dessa jornada interior e a minha cura. 




4/12/2011


- Sempre fico com vontade de te ver falar. Mas pra mim é sempre tão difícil. (saindo do pensamento)

- (risos) Você me faz lembrar das corrente marinhas. Isso! Sou um imenso oceano repleto de desvios. São fluxos intensos: pulsações e vitalidades! Refletem a urgente necessidade de desembocar. (com um forte gosto de sais na boca) São os frutos permitidos, desejados: é aquela tentação que justamente consumo no sangue, o doce infantil de minha ganância divina... (discreto sorriso) minha megalomanice vibrante divinal!

- Um oceano... agora você me fez lembrar o dia que mergulhei na praia da Pajussara em Maceió e sentia uma água bem gelado no pé e no joelho, mas na barriga e nas costas era quentinha. (risos) Legal! 

- É assim que vou me interpretar, me reinventar. Isso significa que vou mergulhar e quando eu voltar vou compartilhar essas profundezas e fluxos com minhas comunidades. Logo quando penso no fazer artístico o que desejo é compartilhar essa vivência. É o ofício de comunicador com características de inventor. 

- Então isso seria uma das especificidades de sua construção poética? 

- Sim. É mergulhar e compartilhar. Portanto, esse ato desvela muitos fluxos. Poderia chamar de um olhar prisma, mosaico, diamante lapidado. Cósmico, holístico! Assim vou explicar a impossibilidade de uma especialização e fundamento toda a minha recusa as instituições e meu profundo desejo de destruí-las.

- Porquê?

- Entendo arte como uma potente possibilidade de se comunicar. Consequentemente um forte instrumento de poder econômico/político/social/cultural, vida! Desta forma não pode estar instituído, não pode estar estruturado nas mãos de poucos, nas mãos daqueles tiram o poder de luta e de transformação da humanidade. (quase frenético) São governos tirânicos! Instituições reprodutoras de infertilidades! Modelos de educação para o medo, para não se criar problemas! É urgente criar problemas e com isso confrontar essa educação para a servidão, esse modelo escravista, essa fabricação de mão-de-obra. (pausa) E quando falo disso também estou falando diretamente de arte. (como quem se questiona) Ando refletindo sobre essas questões e das ações que alguns profetas da revolução vem empreendendo em suas vidas e comunidades. 

- Estou começando a compreender o que você chama de mergulhar num oceano. É... Os fluxos são as varias faces de uma mesma coisa: o mosaico, o diamante lapidado. Assim quando você entra em processo criativo você esta dispondo a entrar num labirinto... Um contato com o infinito! O universo de um oceano!

- Posso dizer que concordo com sua colocação. E ainda diria que é exatamente por isso que a singularidade de cada um é tão importante no processo. O que intento é compartilhar percepções do existir. É o ato de compor perfumes de memórias inventadas, é mais a estória de certas ilusões, de certos conjuntos de idéias e de imagens que se apresentam ao eu-corpo durante o sono em vida, de certas utopias, de certos ideais quiméricos (bolo muito fofo de fantasias que, às vezes, são fritos em azeites de realidades desgraçadamente vividas como calda de açúcar, ovulados pelo esquecimento no ato).

- Ai... Agora me confundi todo. Explica?

- O que me interessa é sua confusão, é o seu delírio, é sua capacidade de responder criativamente no instante da existência. As verdades absolutas, os grandes entendimentos não me despertam muitas vontades.

(silêncio)

- Viver se aprende vivendo. A vivencia, ou melhor, experimentar o gosto do vivo com intensidade faz brotar o impulso, é só deixar sair. É o caminho da produção de linguagem, da construção poética como potência de vida. O nascimento do ser criativo!

- Que lindo!

- E o que desabrocha em mim, como meio de expressão e comunicação, é a ética/estética do desfrutar de nós... Oblação! 

- Oblação? O que é Oblação? 

- Explico: é um oferecimento, uma oferenda. É a ação pela qual se oferece qualquer coisa a deus. 

- (num esgar de susto) Deus? 

- Sim! Já consegui demolir a construção, ou melhor, a formação de deus que me enfiaram. Hoje penso em espiritualidade, celebro os caminhos da intuição e reinvento deus como a grande metáfora da criação. Desse modo, enxergo os outros como potentes seres criativos, logo deuses. Então a oblação é o oferecimento de um deus para outro deus. Isso é o que faço. Este é o movimento poético que anda me nutrindo. E mais: junto a isso tudo tem também o pensar da demolição. É uma atitude de desmantelar as verdade absolutas impostas, de derrubar os a priori institucionais. É uma crença/prática da ação de reinventar-se, renascer em si mesmo. Uma poética da expiração, do deixar sair livre, desapegar-se, que gera a cura.

- Fale mais!

- Na verdade uma grande concepção poética do fazer as pazes com a morte: o feio e o grotesco e com a vida: o sublime e o belo. Portanto, esta é uma percepção subjetiva e singular que só pode estar em vida quando se dividi e/ou se multiplica e/ou se compartilha.

(silêncio)



- (no pensamento) o que é isso? 

- São os fundamentos, às sementes, às células germinativas, altamente especializadas, que através da união de vários saberes – ou de partes do mesmo – formam um novo indivíduo, essa é a compreensão estética em questão. Os gametas são: a poesia, o artesanato e a cura; a memória, a intuição e o intento; o estar contido, a tridimensionalidade e o tempo; a arte cênica, a arte visual e o yoga. Estes gametas fecundam-se gerando uma cena cênica em que os limites (a idéia de fronteira) já se desintegraram. E isso só é possível porque já entendemos que estamos contidos no universo. É a ideia de que um átomo está contido numa célula, que está contido num órgão que está contido num individuo, que está contido numa casa, que está contido num bairro, que está contido numa cidade, que está contido numa região, que está contido num país... Logo nos seria impossível sustentar a ideia de limites institucionalizados na criação de acontecimentos cênicos.

- (num ímpeto de coragem) Mas o que é isso?

- é um ato simbólico existencial de uma emoção tardia, queimada e quase sempre esquecida.

- (no pensamento) Ele só pode estar de sacanagem comigo! 

- É um jogo onde você é convidado a viver um acontecimento criado em um território nômade, o dialogo com o espaço: itinerância. O receptor - você - é admitido na obra, um fenômeno em que os corpos reagem uns sobre os outros.

- (indo embora, no pensamento) Depois o maluco sou eu!

4/08/2011


(choro de fome de um recém nascido)

- Quando a forma fica a intensidade morre! É lamentável ver que a normatividade e regência institucional vos aprisiona. Digo o que sinto/penso e concretizo expressividade, afeto, intenção e intuição humana subjetiva singular que se compartilha, se multiplica e se divide com outras humanidades. Recuso os formalismos despossuídos de inspiração e as fórmulas aristocráticas e caducas preestabelecidas... não é isso que me conta?!?! 

(silêncio corrosivo)

- Minha manifestação de estar vivo não esta relacionada a resolver equações com fórmulas genocídas, com cálculos degenerativos ou manipulando em laboratórios químicas para exterminar culturas terrestres inteiras. 

(Uma manifestação tão brutal quanto a saída de uma ave do ovo)

- Tenho fome! Fome de vida. (explosão) E também, uma fome antropofágica, hiperbólica, plural, transdisciplinar, multiculturalista que almeja o exercício da produção de linguagem, da criação sem limites, da redescoberta da afirmação poética no espaço-tempo que hábito. Tenho crença na reinvenção, no renascer em si mesmo como um projeto de singularidades sociais ativas e não como resultado do passado que foi vivido por elas.

!

4/07/2011


- Calma, calma... (abraço com soluços e pausa longa)

- quer falar?

(como um choro da chegada ao mundo)

- Ódio Acidental! Essas coisa do efêmero e do eterno. 

(grito para o nada)
- Nunca tivessem me conhecido...

4/06/2011



E uma possível mudança? 

Acho muito difícil! 
(...) 
Amar em grande estilo. 
É necessário amar incondicionalmente tudo aquilo que não temos a possibilidade, com o vigor do eu-corpo, de mudar: não podemos disfarçar. 

O seu segredo mais secreto? 

Rebeldia com um grande gosto pueril. 


"(...) Mas, acima de tudo, amai os homens: oxalá suas inspirações extraiam apenas deles seu lustro e seu valor".


!
- Por onde você anda?

- Ando a voar nos diamantestrelas das poesias sonhadas com sabor de vida vivida escorregadia que tanto tento guardar para um dia contar como se fosse meu

- Ando passos de rua carregado de beijos de amor que carregam incertezas, escrituras cheias de cor

- Ando na vida como aquele menino aprendendo com seu medo a deslizar nas rodas da bicicleta

- Ando caçando asas de borboletas para poder desenterrar meu cavalo e poder matar minhas centenas de saudades, lembranças de uma amor

- Ando na pulsação louca e atravessada do eu-coração

3/31/2011


- Porque ainda não se reconhece? O que realmente ainda esconde é uma envergonhada inimizade declarada e luta a coração armado entre sentimentalidades piegas e razões partidárias? 
- Isso... Aceitar o que é mais urgente não é muito fácil! Mas, fico animado ao perceber e receber o que é oferecido, apesar de minha natureza fugitiva. São tantas... as mais variadas imagens do abismo infinito de minha subjetividade, completamente opostas à rigidez e a estática... (gritos) Posso? 
- Claro!
- Quero falar aqui de uma estética onírica ou uma estética da colcha de retalho! (mais gritos) Lanço-me a experimentar a imprevisibilidade da vida interior. 
- A primeira coisa que entendo é que estamos... Não!  Você esta tentando salvar sua própria vida. Portanto, você, é aquele... O homem tentando salvar sua própria vida.

- Pausa... É necessário respirar.

(Durante um sono em vida)

“São tantas coisas emaranhadas no vestido branco que usei ontem. Um desejo intenso de explodir entre as entranhas do ventre de uma humanidade. Essa vontade... Essa megalomanice vibrante que me consome. Junto a isso vem essas desavergonhadas invaginações de frescuras que me corroem, contagiada de paixões não muito esquecidas. Doces ódios que deliciosamente são deglutidos com a falta de prazer. IDIOTA – assim grito. E me dispo e me rasgo e me convido a invadir ilhas imaginarias que muito estão com convites ao suicídio. Essa vontade-desejo de sangue. Esse gosto na boca. E me mordo e me sinto e são pétalas transparentes e são casas e são prados, florestas azuis de tão negras. É um cavalo doido, arisco, selvagem. Há 27 anos não consigo domá-lo e pulo e grito e bato. Confiei em ti e esqueci o sepulcro da noite passada. Clamores nefastos coloridos com tempestade sem fim.
Vagas formas de amar.
Vítimas de cidades submersas.
Não há um único que tenha sobrevivido ao declínio.
 Assim vou rasgado o coração pela rua de diamantes, coberta por nevoeiro. Vai tratante de menopausas juvenis. Vai semeador de semente de menino que usa o disfarce da loucura por não agüentar a verdade da vida, as outras faces da verdade. E esse vento agreste e essa música e essa vontade do trepidar do corpo livre que não passa. O que tenho de melhor a oferecer e a minha açucarada e singela destruição! Cinco mil vezes eu queimaria a palavra te amo porque simplesmente não suporto viver o seu amor. Subitamente me encanto, me encantam. Te amei a cada olhar no espelho! Segura na minha mão... e declara que a vida futura imemorial não existe porque já criamos o nosso ninho nela. Existimos nela. Faz-me acreditar a cada pétala transparente que corre em meu rosto... Meu amigo, minha grande amiga estão na margem do rio precipício esquina beco sem saída. Por isso eu insulto essa tropicanalha vida judaico-cristã-capitalista. Por isso eu enfio o “meu” dedo na tua ferida. Por isso “eu” estou amiúde. Por isso são quatro horas da manhã e “eu” não durmo. Por isso “eu” não durmo. Por isso “eu” não te ligo. Sinceramente sucumbo.”

   - A partir deste ponto não nos responsabilizamos por nossas atitudes concretas e imagéticas -

                              ? Aperto as lembranças de minha vida contra o meu peito. Almejo que elas sejam abençoadas em seu coração. Eu sei o que devo fazer,
                                                                                saber para que isso seja verdade.
Sempre sabemos o que devemos saber.
Eles todos dependem de mim
E eu já sei
É, já sei como isso terminará.

A sensação esta apenas começando, muito terna e afetuosa. Uma mistura de álcool, tabaco e aquele cheiro ilícito de caminhos para a própria perdição. Perdição dos sentidos racionais e coações rupestres sociais.


.